Conselhos que dou a mim mesmo, nesta quadra estranha da vida.

  1. Escolher minhas demências senis. Não supor que não as terei. Melhor preferir algumas a ser vítima de quaisquer.
  2. Evitar o ridículo de querer se manter eternamente jovem e o patético de ser um velho covarde.
  3. Manter a autocrítica, o senso do ridículo. Não pode haver nada mais ridículo do que um velho ridículo que não se enxerga mais.
  4. Evitar o modernismo e também o anacronismo. Viver na suspensão do tempo. Esse é um dos privilégios da idade: não ter que ir nem ter que voltar
  5. Ser cada vez mais sério: ninguém suporta – pelo menos eu não – um velho debochado.
  6. Falar cada vez menos. O silêncio fica bem nos mais velhos, combina com as longas estradas percorridas.
  7. Reconhecer os novos limites e saber que alguns serão insuperáveis. “Olimpíadas” da terceira idade são a quintessência da degradação humana.
  8. Não contar histórias a quem não quer ouvi-las e, principalmente, não contá-las várias vezes.
  9. Ouvir as histórias dos outros, com cada vez maior atenção. Elas levam a mundos alternativos e fantásticos, cheios de aventuras, dramas e riquezas humanas.
  10. Tentar aprender sempre algo novo, de preferência por puro prazer.
  11. Manter o máximo de autonomia, mas aceitar ajuda. Quem não aceita ajuda acaba dando mais trabalho.
  12. Terminar o que já foi começado, antes de iniciar projetos que não se poderão concluir.
  13. Conviver cada vez mais com os mais jovens. Eles são janelas para os futuros que eu não verei.
  14.  Evitar a futilidade e a frivolidade. São afrontas ao dom precioso da vida e um desrespeito profundo a si mesmo.
  15. Valorizar o tempo, não ter pressa para o que for belo, significativo e eterno, sem se perguntar se é “útil” ou “produtivo”.
  16. Manter uma razoável quantidade de dúvidas na mente. Recusar as explicações “cabais”: elas encolhem a alma.
  17. Nunca deixar de se admirar com a vida, com o mundo, manter-se perplexo diante das coisas mais cotidianas.
  18. Manter o olhar para adiante, isto é, para a eternidade, embora a curva na estrada e a nuvem escura no horizonte.
  19. Aceitar as críticas e admoestações, não obstante a arrogância dos jovens e a impaciência dos velhos. Você está entre uma coisa e outra.
  20. Não desejar nem temer a morte. “Sê bravo, sê forte, não fujas da morte, que a morte há de vir” (GD).
  21. Muito cuidado com o ceticismo. Aparência de sabedoria ele tem, mas“lado negro da força ele é” (MY).
  22. Aceitar as incompletudes da vida para poder viver plenamente.
  23. Evitar conversar comigo mesmo e com meus amigos invisíveis – ausentes, falecidos, fictícios – diante de pessoas que não têm esse nível de transcendência espiritual.
  24. Não esperar das pessoas o que elas não têm para dar, mesmo quando elas pensam que sim e o prometem: “de onde menos se espera, daí é que não saí nada mesmo” (BT).
  25. A sabedoria do tempo é: eu antes NÃO sabia apenas superficialmente as coisas que hoje não sei profundamente.
  26. Não tentar mudar a ninguém exceto a mim mesmo.
  27. Não reclamar: as coisas e as pessoas que nunca se importaram não começarão a se importar agora.
  28. Não falar alto. As pessoas não estão ficando surdas, Elas apenas não estão sempre interessadas no que tenho a dizer.
  29. Não ficar com raiva quando tomam minha insistência por idiotia – talvez seja mesmo.
  30. Fazer de tudo para não perder mais nenhum por do sol, ECLIPSE, lua cheia ou passagem de cometa.

Cairos Anann Cronn
Via Baú do Fernando Saboia

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Sérgio Avillez

Pastor que nas horas vagas gosta de fotografar o belo.
Oração: Minha necessidade, meu prazer!