Conselhos que dou a mim mesmo, nesta quadra estranha da vida.
- Escolher minhas demências senis. Não supor que não as terei. Melhor preferir algumas a ser vítima de quaisquer.
- Evitar o ridículo de querer se manter eternamente jovem e o patético de ser um velho covarde.
- Manter a autocrítica, o senso do ridículo. Não pode haver nada mais ridículo do que um velho ridículo que não se enxerga mais.
- Evitar o modernismo e também o anacronismo. Viver na suspensão do tempo. Esse é um dos privilégios da idade: não ter que ir nem ter que voltar
- Ser cada vez mais sério: ninguém suporta – pelo menos eu não – um velho debochado.
- Falar cada vez menos. O silêncio fica bem nos mais velhos, combina com as longas estradas percorridas.
- Reconhecer os novos limites e saber que alguns serão insuperáveis. “Olimpíadas” da terceira idade são a quintessência da degradação humana.
- Não contar histórias a quem não quer ouvi-las e, principalmente, não contá-las várias vezes.
- Ouvir as histórias dos outros, com cada vez maior atenção. Elas levam a mundos alternativos e fantásticos, cheios de aventuras, dramas e riquezas humanas.
- Tentar aprender sempre algo novo, de preferência por puro prazer.
- Manter o máximo de autonomia, mas aceitar ajuda. Quem não aceita ajuda acaba dando mais trabalho.
- Terminar o que já foi começado, antes de iniciar projetos que não se poderão concluir.
- Conviver cada vez mais com os mais jovens. Eles são janelas para os futuros que eu não verei.
- Evitar a futilidade e a frivolidade. São afrontas ao dom precioso da vida e um desrespeito profundo a si mesmo.
- Valorizar o tempo, não ter pressa para o que for belo, significativo e eterno, sem se perguntar se é “útil” ou “produtivo”.
- Manter uma razoável quantidade de dúvidas na mente. Recusar as explicações “cabais”: elas encolhem a alma.
- Nunca deixar de se admirar com a vida, com o mundo, manter-se perplexo diante das coisas mais cotidianas.
- Manter o olhar para adiante, isto é, para a eternidade, embora a curva na estrada e a nuvem escura no horizonte.
- Aceitar as críticas e admoestações, não obstante a arrogância dos jovens e a impaciência dos velhos. Você está entre uma coisa e outra.
- Não desejar nem temer a morte. “Sê bravo, sê forte, não fujas da morte, que a morte há de vir” (GD).
- Muito cuidado com o ceticismo. Aparência de sabedoria ele tem, mas“lado negro da força ele é” (MY).
- Aceitar as incompletudes da vida para poder viver plenamente.
- Evitar conversar comigo mesmo e com meus amigos invisíveis – ausentes, falecidos, fictícios – diante de pessoas que não têm esse nível de transcendência espiritual.
- Não esperar das pessoas o que elas não têm para dar, mesmo quando elas pensam que sim e o prometem: “de onde menos se espera, daí é que não saí nada mesmo” (BT).
- A sabedoria do tempo é: eu antes NÃO sabia apenas superficialmente as coisas que hoje não sei profundamente.
- Não tentar mudar a ninguém exceto a mim mesmo.
- Não reclamar: as coisas e as pessoas que nunca se importaram não começarão a se importar agora.
- Não falar alto. As pessoas não estão ficando surdas, Elas apenas não estão sempre interessadas no que tenho a dizer.
- Não ficar com raiva quando tomam minha insistência por idiotia – talvez seja mesmo.
- Fazer de tudo para não perder mais nenhum por do sol, ECLIPSE, lua cheia ou passagem de cometa.
Cairos Anann Cronn
Via Baú do Fernando Saboia