Eu, avarento?
É possível um discípulo se tornar avarento? Avareza não é prerrogativa apenas dos não convertidos, dos homens maus, dos incrédulos. O risco de nos tornarmos avarento, não é algo impossível. Como qualquer outro pecado, a avareza pode nos enganar e nos fazer tropeçar e mais ainda, pode nos fazer nos distanciar de Deus e dos nossos irmãos, colhendo consequências gravíssimas à nossa vida. Não ocorre de forma imediata, não dormimos generoso e acordamos avarentos; não, é um processo lento e de destruição letal. É uma espécie de degradação progressiva da graça da generosidade. Essa graça que é fruto do Espirito em nossas vidas.
O discípulo, deixa pouco a pouco de descansar e confiar no cuidado de Deus; perde o temor, é tomado do medo de ficar desprovido, passa a reter mais do que é justo, passa a acumular para si mesmo, e então torna-se um avarento.
O avarento tem apego demasiado e sórdido ao dinheiro e as posses. É desejoso e imoderado em adquirir e acumular para si riquezas. A avareza é classificada pela escritura como pecado. Constitui uma grave deficiência de caráter e de fé em Deus, pois aponta para uma ausência de confiança no Pai, que tudo provê para nós.
Deus chega a associar a avareza com a idolatria. Um pecado, que desloca o amor, o louvor e ações de graças devidas à Deus para aquilo que é vil, desprezível e temporal.
“Sabei, pois, isto: nenhum (…) avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus” Ef 5.5.
“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e à riquezas.” Mt 6.24
A avareza abriga a falsa segurança do homem no seu esforço pessoal, nos seus recursos e poder, na sua capacidade de ganhar e guardar. Pode-se dizer, com isso, que essa característica é traduzida como “amor ao dinheiro”, que segundo as escrituras é “a raiz de todos os males”. Geralmente quem a tem traz acompanhado com ela: orgulho, soberba e altivez. É parte de um conjunto de muitas das maldades do nosso velho coração, esse coração falido, com o qual, já não temos mais nenhum compromisso. Não é cabível à vida do discípulo, pois é uma herança carnal (adão) e de ofensa grave a Deus.
Não se pode aceitar que alguém que se diga discípulo de Jesus, esteja a conviver pacificamente com essa atitude pecaminosa. Se assim estar, sua consciência já está corrompida e maculada, esse discípulo precisa imediatamente de ajuda.
A avareza pode até se disfarçar com sutileza, porém a mesma, quando abrigada na vida, constitui algo objetivo e consciente; ou seja, quem a tem, sabe que a tem. Vejamos:
“E (Jesus) lhes proferiu uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstrui-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então direi a minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te…” (Lc 12.16-19).
Observemos os aspectos da vida de um homem avarento; esse homem não tem contentamento pelas coisas que possui; acumula para si próprio; é indiferente à necessidade do próximo; tem dificuldade em repartir, não compartilha do que dispõe, não distribui; não tem interesse na causa do pobre; não se associa com a necessidade do outro. Alguns guardam, não tendo até para quem deixar quando morrerem. Outros podem até contribuir com alguma soma ou outra coisa, mas como um “disfarce” da sua maldade; em alguns casos, para não ser identificado. Nesse caso, é mesquinho, dá do que sobra, dá com tristeza, por constrangimento.
O coração do avarento constitui, em parte, do medo de retirar do que possui, de ficar com menos. Com receio das intempéries, acumula e acumula. A verdade é que todos nós trazemos em nossa velha natureza essa herança de Adão, essa pré-disposição, em reter mais do que é justo. Todos estamos igualmente sujeitos a esse desvio; portanto, é tão somente por meio de Jesus que estaremos livres de sermos enganados e contaminados pelo nosso velho e terrível coração.
Quando identificarmos esse pecado em nossa vida, devemos buscar imediatamente convicção de pecado, arrependimento (mudança) e confissão (1Co 5.12), e retorno a uma vida de confiança plena em Deus.
“Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: não te deixarei, nem te desampararei. De modo que com plena confiança digamos: o Senhor é quem me ajuda, não temerei; que me fará o homem?” (Hb 13 5,6)
Cuidando dos nossos irmãos
Devemos ajudar também os irmãos nesse aspecto. Ensinar a graça da generosidade, ajudá-los a viver a plenitude do evangelho, (2Co 9.13) que inclui a generosidade do novo coração; animá-lo a levar a termo e crescer nessa graça, estabelecer passos práticos de generosidade, acompanhar de perto o progresso, e orar sobre o assunto. Sem uma efetiva confrontação, não ocorrerá correção de desvio.
É necessário conduzir o discípulo a orar e propor em seu coração uma mudança efetiva. Ele deve ter como alvo principal, sobretudo, crescer na confiança em Deus, descansando na sua provisão e cuidado amoroso.
A Escritura nos orienta que não devemos nos associar com os avarentos; nesse caso, aqueles que dizendo ser irmãos são avarentos. Obviamente que o ideal, num primeiro momento, será corrigirmos esse desvio na vida desses irmãos. (1Co. 5.9-13)
A avareza deve ser combatida com ensino e correção.
Advertência de Jesus e dos apóstolos:
“Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.” (Lc 12.15)
“Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.” (1Tm 6.10)
“… mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera.” (Mc 4.19)
“Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus.” (Lc 12.21)
“Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento…” (1Tm 6.17)
“Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes…” (Hb 13.5)
“As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça; o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens (…) tesouros acumulastes nos últimos dias.” (Tg 5.2,3b)
Cesar Damasceno
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