Eu, Sérgio de Avillez, gostaria de escrever um pouco sobre mim mesmo. Gostaria que você conhecesse como foi que eu comecei o meu relacionamento com Jesus e como foi que estou juntamente com a Zoé construindo nossa história.
Quanto eu (23 anos na época), terminei a faculdade de direito, no Rio de Janeiro, comecei minha ascensão profissional. Comecei a ser promovido e a receber convites interessantes. Numa destas propostas parei em Salvador para um trabalho de seis meses. Tinha firme no meu coração que só aceitaria uma única prorrogação de mais um semestre.
Eu gostava muito de morar e trabalhar no Rio de Janeiro, cidade onde nasci e me formei. Enquanto pela capital baiana eu não tinha o menor interesse e atração. Ao contrario, com frequência dizia que era um lugar que jamais moraria.
Trabalhava e trabalhava muito. Só tinha uma grande ocupação: o trabalho.
Algumas semanas antes de me mudar um questionamento surgiu em meu coração e não havia quem me respondesse na congregação que eu participava: porque na Bíblia está escrito que Jesus pregava o evangelho do reino enquanto nós, os evangélicos, falávamos em pregar a salvação? Parecia-me uma incoerência que não tinha solução.
Pensando neste assunto por alguns meses fui visitando diversas congregações em Salvador. E, a cada visita, mais me decepcionava com o que via e ouvia. Até que recomendaram-me um local que tinha um jovem, como eu, fazendo um trabalho diferente. Além de que o pastor tinha seis filhas e eu poderia casar com uma delas.
O que de fato ocorreu.
O que primeiro me chamou a atenção foi terem se oferecido para orarem por mim. Eu não conhecia isto. Alguém, voluntariamente, orando por outro. Disse que necessitava de amigos. Com isto veio um convite para almoçar.
Dentro de todo protocolo fui com flores para a anfitriã. Não sabia o que estava me esperando. Não tinha ideia de que as minhas indagações seriam respondidas e muito mais.
O Senhor começou a falar que veio para reinar sobre nós. Que Ele tinha deixado um evangelho claro e definido para nós. Não era para o tempo passado. É para hoje. Não era só para os judeus. É para os homens de todas as raças. Não é para o futuro. É para agora. Não é para os outros. É para mim.
Até hoje fica muito claro para mim: o evangelho do reino de Deus envolve EU, AQUI e AGORA.
A palavra evangelho que dizer boas novas. Jesus veio nos dar boas novas do reino, isto é, boas novas de governo. Jesus quer governar nossas vidas, a minha vida. Jesus deseja colocar uma ordem no “caos nosso de cada dia”.
Imagine que você inventa um carro todo diferente e moderno, com alta tecnologia. Você o vende. Apesar de ter sido programado para não dar nenhum defeito, pára de funcionar. O que o comprador pode fazer?
Consertá-lo. Levá-lo para um mecânico qualquer. Ou pedir a quem o criou para consertá-lo.
E quem foi que nos criou? Porventura será que o Criador não sabe o que é melhor para nós? O que mais precisamos?
Essa é a melhor e boa nova que o Pai tem para nós: o seu governo sobre nós.
Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia” (João 10.10). Não é uma vidinha vivida em conta gotas. É uma vida exuberante, cheia de paz e esperança. Uma vida vivida com propósito. Para esta vida que fomos criados. Ter um alvo eterno que não se corrompe.
Sabe como de fato a “ficha caiu”? Como de fato em compreendi?
Naqueles dias estávamos ensaiando uma pequena peça de teatro sobre o Tesouro Oculto, pequena parábola de Jesus que podemos ler em Mt13.44. Eu fazia o papel do homem que vende tudo (o nome do meu personagem era Raimundo, creia…). E, Zoé fazia o papel de esposa do personagem (nada melhor…). Enquanto apresentávamos a peça, eu realmente entendi o reino de Deus e me converti. Abandonei o script e passei a falar do meu coração em alta voz. Foi um confusão só para os outros que estavam representando. Foi um alegria sem tamanho para mim!
Eu comecei a deixar Jesus governar minha vida, a colocar uma ordem no meu caos de cada dia. Foi exultante. A sensação de paz tomou todo o meu ser. E, enquanto na peça eu vendia tudo que tinha, na vida real e diante da plateia eu renunciava a tudo que era mais importante para minha vida.
A renuncia não é algo fácil. Renunciar o que sempre (apesar da pouca idade) pensava e sonhava. Renunciar aquilo que vinha sendo meu norte (apesar de estar em confusão), não foi brincadeira e não o é. Até os dias de hoje, colho frutos bons da renuncia feita.
Três coisas eram muito importante para mim, àquele tempo. Primeiro, o meu trabalho, ganhava muito e trabalhava muito mais ainda. Gosto de trabalhar, gosto de dinheiro como qualquer outro homem. Renunciei ao meu trabalho com tão grande alegria que eu não imaginava. Trocar o dinheiro, a posição, o status pela vida eterna não tem comparação.
Segundo, um desafio que tinha em meu coração desde os meus 15 anos. Trabalhar com crianças. Fazer um trabalho para-escolar com crianças e adolescentes. É uma delicia ver o desenvolver e o desabrochar dos pequenos.
Terceiro e último, minha paixão: a fotografia. Gastava rolos de filme fazendo fotografia de paisagens, flores, portas e janelas, brincando com luz e sombra e assim por diante. Era meu melhor passatempo. Inclusive eu me desfiz de todo o meu equipamento fotográfico.
Como você pode observar não estava renunciando coisas pecaminosas, nem ilícitas. A renuncia só envolveu coisas boas e normais a qualquer pessoa. Agora observe o que ocorreu.
Aproximadamente quatro meses depois fui demito. Pergunto: eu perdi o emprego? A resposta mais natural é sim. Todavia como posso perder algo que não era mais meu? Fui demitido porque advogado que não mentia não podia trabalhar para aquela empresa. Fui demitido por causa de minha integridade. E um detalhe curioso a demissão chegou na noite de Natal de 1980. Que noite! Estava apresentado a Zoé como minha noiva a família no Rio de Janeiro. Aleluia.
Só dez anos depois é que retornei ao trabalho com crianças, só que com bases totalmente diferentes. Já não era o meu ponto de vista que importava, era o que o Pai desejava para aquelas crianças. O objetivo e o meio de alcançá-lo era colocado pelo Pai. Não era minha bondade, não era para eu ser visto, mas para a glória de Deus.
E, a fotografia… Bom só em 2007, ao retornar da África é que voltei a realmente fotografar, inclusive ganhei um equipo muito bom. Voltei a brincar de fazer fotografia. Também em bases totalmente diferente: em primeiro lugar vem o Reino de Deus e depois o resto, inclusive a fotografia.
Quanta coisa eu poderia ter sido e feito… Mas eu faria tudo novamente como fiz. Estar em Cristo e ser achado nele foi a melhor escolha que fiz sem dúvida nenhuma. Eu não me arrependo de nada que deixei de fazer por causa do reino de Deus. Também não me arrependo de nada que fiz por causa do reino do amado de minha alma.
“Se alguém está em Cristo é nova criatura, as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17). Apesar de ter hoje 58 anos, eu sou nova criatura. Alias, sempre me sinto assim, pois foi o Senhor quem afirmou isso. E porque? Por que o Espírito Santo de Deus habita em nós, assim “Se, todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1). É interessante observar que o advogado não é de acusação e sim de defesa. “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós.” (Rm 8.34). Este advogado intercede por nós.
Que bom, que alegria, nosso advogado é perfeito, é o único perfeito. Aleluia. Não estamos nem estaremos sós, nunca. Temos Jesus Cristo como nosso intercessor, nosso mestre, nosso amigo, nosso irmão mais velho. Temos a Jesus como nosso amado.
… sérgio de avillez …