A alma funciona como se fosse o “sistema operacional” do ser humano. (Que tempos estes em que usamos a máquina, criada pelo homem, para tentar entender o próprio homem!). É na alma que “rodam” os “programas” necessários a uma vida funcional e saudável: o estado de consciência, o pensamento, a vontade, a memória, a inteligência, a emoção, a imaginação, a consciência moral, o senso de justiça, de verdade e de beleza, os valores.

Como ocorre com os computadores e com o corpo biológico, a alma sofre constantes ataques de agentes destrutivos capazes de comprometer sua funcionalidade e de corromper sua integridade. É, pois, imprescindível protegê-la contra esses inimigos.

“Programas piratas”, “sites” não confiáveis ou mesmo o simples “navegar pela rede” podem introduzir na alma conceitos falsificados, amores degenerados, vontades rebeladas, experiências corrompidas, perdas não superadas, temores, tristezas, más lembranças e outros semelhantes que atuam como “vírus”, pois afetam não apenas uma situação específica, mas, se não tratados, contaminam todo o organismo.

 Jesus nos adverte sobre as coisas que “provém do coração” e que contaminam todo o homem: “maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15:19).

Também os apóstolos nos exortam quanto à necessidade de manter a alma (mente, coração) preservada e santa, livre de agentes contaminadores, como a amargura, a ira, a inveja, a impureza, a avareza etc.

Todos esses agem como “vírus” na alma. Instalam-se num ponto específico, desenvolvem-se silenciosamente, apresentam sintomas iniciais de aparência inofensiva. Depois, vão se alastrando, contaminando outros órgãos e comprometendo funções vitais. É como uma gripe pode virar uma pneumonia ou uma ferida infeccionar.

Quantas pessoas não ficam marcadas por uma má experiência em uma área da vida e acabam se tornando completamente amarguradas, ou raivosas, ou pessimistas, ou descrentes, ou agressivas ou covardes?

Quantas não são vítimas de um conceito falso, de uma palavra frívola, de um pensamento distorcido que as levou a más decisões que comprometeram toda a vida?

Um vírus virtual pode “travar” todo o computador e mesmo inutilizá-lo. Pode fazer o mesmo um vírus biológico, provocando uma infecção generalizada e falência de órgãos vitais.

Os vírus da alma atuam do mesmo modo, produzindo danos semelhantes. Há, no entanto, “programas” capazes de detectar e eliminar essas infecções. Quero recomendar três “antivírus” que, corretamente utilizados, podem nos proteger com eficiência desses agentes letais. São testes de validação que aplicáveis a conceitos, práticas, experiências, ensinos, pensamentos, palavras, sentimentos, inclinações, vontades, sugestões e estímulos que constantemente nos acometem e nos pressionam, produzidos pelo mundo, pelos acontecimentos, pelos relacionamentos, pelo pecado, pelo inimigo, por nós mesmos.

O primeiro teste ou “antivírus” da alma pode ser chamado de teste da igreja reformada ou “cristocêntrico”.  Consiste em submeter o “agente agressor” – o pensamento, palavra, sentimento, conceito, prática, ensino etc. — às seguintes perguntas:

Jesus fez isso? Ensinou a fazer isso? Aprovou isso?

Os apóstolos fizeram isso? Ensinaram? Aprovaram?

Se as respostas forem negativas, cuidado! É vírus! Apague o mais rapidamente possível!

Esse teste é excelente para detectar ensinos humanos, práticas religiosas, legalismos, falsas profecias, autoritarismos, conceitos errados. Trata- se de uma avaliação fundamentalmente bíblica e é definitiva para identificar absolutos: só pode ser considerada verdade indiscutível o que está claramente afirmado na Bíblia e só é mandamento o que Jesus e os apóstolos ordenaram. E isso em textos diretos, não simbólicos, não passíveis de interpretações livres.

Para usar esse “antivírus” deve-se conhecer muito bem Jesus, Sua vida, ensino e obra, assim como registrados no Novo Testamento.

 Muitos erros doutrinários, práticas estranhas, ensinos deturpados e enganos poderiam ser evitados com essas simples perguntas que nos remetem aos fundamentos da fé e à revelação escrita de Deus, onde encontramos os fatos e as palavras de salvação em Jesus Cristo.

O segundo “antivírus” é o teste do propósito eterno de Deus ou “teocêntrico”. Diante de qualquer situação, palavra, pensamento ou sentimento, decisão proposta etc. pergunte:

Isso está de acordo com o propósito eterno de Deus? Contribui para ele? Produz santidade, edificação? Submete tudo ao senhorio de Jesus?

Devemos sempre nos lembrar com clareza qual o propósito para o qual fomos criados. O Senhor quer um povo, uma família de muitos filhos santos como Jesus e, para isso, está fazendo convergir todas as coisas para debaixo do governo de Cristo, estabelecendo o Seu Reino.

Assim, esse é um teste que nos dá um princípio de interpretação e de discernimento da realidade e de tudo o que acontece. Deus está agindo soberanamente em todas as coisas para que elas cooperem para o Seu propósito.

Tudo o que não está de acordo com esse propósito ou não contribui para ele, tudo o que não se submete a Jesus, tudo o que não tem como fim último a santidade, a edificação do corpo e a proclamação do Reino, no mínimo, não é importante e é, potencialmente, um “vírus” para a alma, mesmo que seja algo lícito em si mesmo.

Não raro nos contaminamos com coisas que seriam boas em si mesmas, mas que, por não terem entrado em nossa vida para contribuir com o propósito de Deus ou por não estarem debaixo do governo de Jesus acabam se tornando desvios, ídolos, tentações, “vírus” para a alma.

Esse teste nos mantém no alvo, organiza nossa mente, traz paz ao coração e coloca em ordem nossas prioridades. Ordena e sossega nosso interior para produzir frutos de vida no Reino de Deus, nos livrando de coisas inúteis, fúteis e perigosas.

O terceiro “antivírus” é o teste do Corpo de Cristo ou “espiritocêntrico”. O “agente agressor” – a questão ou situação, pensamento, idéias, proposta, sentimento etc. – deve ser colocado sob o exame da Igreja e submetido ao ministério carismático dos irmãos. Questione:

 Houve conselho? Foi exposto na luz, submetido ao exame dos irmãos? Há paz no Corpo? Houve busca de direção e manifestação do Espírito Santo? O que dizem os irmãos com os quais estamos comprometidos e vinculados?

Esse teste deve ser usado com cuidado, sempre associado aos dois anteriores, para evitar subjetivismos, personalismos, enganos do coração e abusos de autoridade.

Ele é muito importante porque pode tratar de situações da vida cotidiana para as quais não há, por vezes, um preceito bíblico diretamente aplicável ou não é possível antever os resultados de ações ou propósitos.

Para usar esse “antivírus” devemos estar em relacionamentos fortes, definidos, pessoais e comprometidos com o propósito eterno de Deus. Também é necessário que esses vínculos sejam canais pelos quais o Espírito Santo manifeste Seu Poder e Graça por meio dos dons, operações e serviços.

Devemos nos lembrar que nossa edificação é uma tarefa coletiva e recíproca, marcada pelas mutualidades do Corpo: amar uns aos outros, exortar uns aos outros, edificar uns aos outros, consolar uns aos outros etc.

A paz que deve presidir nossa via é a paz de Cristo, no qual fomos chamados em um só corpo. É, pois, a paz de Cristo e a paz do Seu Corpo. É coletiva e não individual. É uma experiência da Igreja e não um sentimento pessoal. Muitos se contaminam porque preferem agir com independência e não permitem que o Senhor toque suas vidas por meio do Seu Corpo.

Esse três “antivírus” da alma se complementam e devem ser usados em conjunto regularmente. É muito importante que freqüentemente façamos uma “varredura” na alma para detectar contaminações que podem nos causar grandes danos. Isso se faz com leitura da palavra, oração, meditação, exame de consciência, confissão.

Deus mesmo nos proporciona experiências destinadas a “formatar” nossa alma e nos trazer renovação, restauração, regeneração e cura.

 O Senhor disse, por Seu profeta, que somos como barro nas mãos do Oleiro: Ele pode nos amassar, purificar e fazer de novo úteis para Seu propósito.

 Graça de Jesus seja com todos.

Fernando Sabóia Vieira, Brasília, DF, 2011, aD.

PS: Agradecimentos ao Saulo Afonso por suas cuidadosas anotações da mensagem original e pertinentes sugestões.

Via Baú do Fernando
Imagem 1 recolhida do Tumblr
Imagem 2, Três Varreduras, by SAvillez

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Pela Manhã

Faze-me ouvir, pela manhã, da tua graça, pois em ti confio; mostra-me o caminho por onde devo andar, porque a ti elevo a minha alma. Salmos 143.8