Fui o último a casar e a sair de casa. Tive o privilégio de viver sob o mesmo teto com minha mãe por 31 anos, do dia 17 de agosto de 1970 ao dia 05 de agosto de 2001, quando fui morar no Rio Grande do Sul, enviado por Deus.

Um dos 10 mandamentos é “honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá”. Portanto, quero honrá-la hoje, diante de todos, com este poema intitulado “Ela estava lá”.

Ela estava lá!

Quando, na minha infância, tinha constantes febres altas devido ao beta hemolítico, ela estava lá colocando pano frio e molhado na minha testa.

Quando, aos 08 anos, numa fazenda em Corrente, no Piauí, um carro de boi passou por cima das minhas pernas e uma delas ficou tão inchada que foram necessários dois copos para conter o pus que jorrava, à medida que o médico, depois de fazer uma incisão, pressionava a perna e eu urrava de dor, ela estava lá comigo e eu só lembro que ela estava lá.

Quando, desde que me entendo por gente, eu ia dormir, ela estava lá, se debruçava sobre minha cama, e me cobria, e me beijava, e me abençoava, e dizia que me amava. Dia após dia, até quando saí de casa.

Quando, aos 15 anos, meu pai morreu repentinamente, ela estava lá sendo minha mãe e meu pai. Fazendo das tripas coração para, em meio à sua própria dor, buscar forças em seu Deus para minimizar nossa própria dor. Soubemos, mais adiante, que no seu dia mais desesperador, ela entrou no banheiro, se derramou diante do seu Rei e ouviu uma voz da boca do Senhor que dizia: “Eu estarei contigo por onde quer que tu fores”.

Quando, até os 24 anos, eu era simplesmente um religioso freqüentador de igreja, sem vida de comunhão com Deus, ela estava lá, diante do trono, intercedendo por mim todos os dias, desde que nasci.

Quando, aos 24 anos, fui fortemente convencido de pecado, ao mesmo tempo em que entendia, enfim, a cruz de Cristo e era invadido por seu amor, entregando-me a Ele, ela estava lá, diante do trono, orando por mim.

 

Quando, a partir dos 24 anos, comecei a andar com Deus e a buscar conhecê-lo, ela estava lá, diante do trono, sem nunca parar de orar por mim, até hoje.

Quando, aos 28 anos, ao fazer o exame chamado “ecocardiograma transesofágico”, debatia-me por não conseguir respirar em função do tubo que entrava pela minha boca e descia por minha garganta, ela estava lá segurando bem forte minha mão. 

Alena

Quando, aos 28 anos, enfim, tive a feliz idéia de perguntar como ela achava que deveria ser a mulher com quem eu deveria casar, ela estava lá para dar a resposta mais simples e sublime: “Meu filho, ela deve ser uma serva do Senhor”.

Quando, aos 29 anos, eu pedi demissão do emprego porque Deus havia ordenado, ela estava lá pra me dizer: “não meu filho, Deus também fala comigo, ele não vai querer que eu tenha dois filhos desempregados”. Meu irmão mais velho tinha acabado de ficar desempregado.

Quando, pouco depois, passado o susto inicial, notou que eu estava convicto de que Deus ordenara e que eu iria obedecê-lo, ela estava lá para me apoiar em oração, sustento e amor.

Quando, aos 31 anos, eu me casei com minha amada esposa, Patrícia, ela estava lá para entrar comigo, de mãos dadas, na cerimônia, linda e sorridente, dando-me um beijo e dizendo, pela milionésima vez, “Deus te abençoe, meu filho”.

Quando, aos 33 anos, tive a benção de ser pai pela primeira vez, numa cidade do interior do Rio Grande do Sul, no final do Brasil, a milhares de quilômetros daqui, ela estava lá chorando comigo pela vida do meu filho Daniel.

Quando, aos 36 anos, já de volta a Salvador, Deus me presenteou com minha filhinha, Sara, ela estava lá, embalando-a nos braços e dizendo a célebre frase: “Nasceu perfeita”.

Quando, sendo já pai, comecei a pensar na minha mãe-pai, percebi que ela sempre esteve lá, no interior da nossa casa, dedicada aos filhos e ao marido, e como sua presença constante moldou o meu caráter de uma maneira tão poderosa.

Quando, há dez dias atrás, completei 40 anos, ela estava lá, pelo celular, me dizendo o quanto me amava, e por e-mail, escrevendo: “Maninho, querido filho, que Deus continue lhe dirigindo e protegendo e sendo o seu Senhor. Você é uma benção maravilhosa para sua mãe. Que Deus seja louvado sempre em sua vida. Sua mãe que o ama. Alena”.

Quando, não sei com quantos anos, o Deus que ela me ensinou a amar desejar me levar para junto dele, e, na glória, eu estiver com todos os santos na casa do Pai, eu sei que ela estará lá, pois Deus já disse que o seu nome está escrito nos céus.

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Por sinal, esta foi a única vez, em toda a história da nossa vida, que minha mãe não pensou em seus filhos, apenas nela. E isto aconteceu em um sonho que Deus deu a ela há alguns anos.

Ela me contou que olhava para o céu e via muitos nomes escritos, nomes de toda espécie, o céu completamente repleto deles. Saiu, então, à procura do seu nome, e não cansou até encontrá-lo. E muito se alegrou quando o encontrou. E acabou o sonho.

Na hora eu me lembrei do texto de Lucas 10:20, em que os discípulos, depois de terem recebido autoridade e sido enviados por Jesus para curar enfermos e pregar o Reino de Deus, voltaram cheios de alegria porque os demônios a eles se submetiam pelo nome de Jesus. Nesta hora, Jesus diz –

“Eu vos dei autoridade… mas não vos alegreis porque os espíritos se vos submetem, alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus”.

Então, ansioso, perguntei: “Mãe, a senhora não procurou o meu nome?”. E ela me respondeu, sorrindo: “Não, meu filho, eu nem me lembrei de vocês”. É! Só em sonho mesmo!!!!

Mano Nogueira

Texto lido quando do aniversário de 70 anos de minha mãe, Alena.
Rio Verde , Goiás, 27 de agosto de 2010.

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Sérgio Avillez

Pastor que nas horas vagas gosta de fotografar o belo.
Oração: Minha necessidade, meu prazer!